E A SANTA CHOROU...
Há poucos dias, foi publicado no jornal O Liberal
uma matéria sobre um fenômeno que está acontecendo na Vila do Apeu, no
município de Castanhal. Um fenômeno em torno de uma imagem de N. S. de Nazaré
que estaria “chorando sangue”. A matéria também contém um pronunciamento do
arcebispo do Pará, Dom Zico.
Antes de tudo, merece consideração o pronunciamento
do Sr. Arcebispo que é a autoridade máxima da Igreja Católica neste Estado. Sua
palavra, para muitos fiéis, já é motivo de fé sobre qualquer assunto, quanto
mais em se tratando de um fenômeno suspeito de milagre. Portanto, seu
pronunciamento compromete muito mais do que o de um sacerdote em questões dessa
natureza.
O que pode-se considerar , pelo que se Lê no jornal
, é que o Sr. Arcebispo precipitou-se afirmando que não existia charlatanismo e
que o fenômeno é de natureza de paranormalidade ou sobrenatural. E logo em
seguida afirma que um sacerdote foi designado para estudar o caso. Ora, se a
questão está sujeito a estudos, o arcebispo não poderia defini-la quanto à
natureza de paranormalidade ou sobrenatural. Por outro lado, apresenta a
simplicidade do casal, ao qual pertence a imagem, como se fosse um critério de
VERDADE.
Sob o ponto de vista teológico, não há razão para
Deus operar um milagre desse tipo. Os milagres realizados por Cristo não
objetivavam, PRIMEIRAMENTE, suavizar o sofrimento desta ou daquela pessoa ou
compensar a falha do gene, fazendo existir, de repente, uma perna ou um braço,
mas comprovar Sua procedência Divina, através de sinais sensíveis e
extraordinários. O que não significa dizer que Deus não possa mais fazer
milagres. . Em tese, Ele pode tudo. Contudo ninguém melhor do que Ele respeita as leis naturais e
age com coerência. Na verdade, o homem ainda revela sofrer uma certa influência mítica quando quer
uma resposta imediata para fenômenos
ditos extraordinários ou considerados inexplicáveis. Os explicáveis devem ser,
antes de tudo, submetidos às analises científicas. Provados que são da ordem
natural então recorrer-se -á a outras formas de conhecimento até chegar ao
sobrenatural.
Diz um respeitado pensador que é possível passar da
intuição a análise, mas jamais da análise para a intuição. Se admitido como
sobrenatural, é possível, com o auxílio da ciência, explicar o significado do
fenômeno, apesar da impossibilidade de identificar sua causa. Mas, a partir de
uma simples observação, a olho nu, chegar-se a conclusão de que se trata de um
fenômeno paranormal ou sobrenatural, é um absurdo!
Armando Avellar
04/04/96
Publicado no Jornal O liberal no dia 11/04/96
* Armando Avellar Pertence ao Departamento de Filosofia da
UFPA
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