sábado, 12 de julho de 2014

E A SANTA CHOROU...



                                                     E A SANTA CHOROU...


Há poucos dias, foi publicado no jornal O Liberal uma matéria sobre um fenômeno que está acontecendo na Vila do Apeu, no município de Castanhal. Um fenômeno em torno de uma imagem de N. S. de Nazaré que estaria “chorando sangue”. A matéria também contém um pronunciamento do arcebispo do Pará, Dom Zico.

Antes de tudo, merece consideração o pronunciamento do Sr. Arcebispo que é a autoridade máxima da Igreja Católica neste Estado. Sua palavra, para muitos fiéis, já é motivo de fé sobre qualquer assunto, quanto mais em se tratando de um fenômeno suspeito de milagre. Portanto, seu pronunciamento compromete muito mais do que o de um sacerdote em questões dessa natureza.

O que pode-se considerar , pelo que se Lê no jornal , é que o Sr. Arcebispo precipitou-se afirmando que não existia charlatanismo e que o fenômeno é de natureza de paranormalidade ou sobrenatural. E logo em seguida afirma que um sacerdote foi designado para estudar o caso. Ora, se a questão está sujeito a estudos, o arcebispo não poderia defini-la quanto à natureza de paranormalidade ou sobrenatural. Por outro lado, apresenta a simplicidade do casal, ao qual pertence a imagem, como se fosse um critério de VERDADE.

Sob o ponto de vista teológico, não há razão para Deus operar um milagre desse tipo. Os milagres realizados por Cristo não objetivavam, PRIMEIRAMENTE, suavizar o sofrimento desta ou daquela pessoa ou compensar a falha do gene, fazendo existir, de repente, uma perna ou um braço, mas comprovar Sua procedência Divina, através de sinais sensíveis e extraordinários. O que não significa dizer que Deus não possa mais fazer milagres. . Em tese, Ele pode tudo. Contudo ninguém  melhor do que Ele respeita as leis naturais e age com coerência. Na verdade, o homem ainda revela sofrer  uma certa influência mítica quando quer uma  resposta imediata para fenômenos ditos extraordinários ou considerados inexplicáveis. Os explicáveis devem ser, antes de tudo, submetidos às analises científicas. Provados que são da ordem natural então recorrer-se -á a outras formas de conhecimento até chegar ao sobrenatural.

Diz um respeitado pensador que é possível passar da intuição a análise, mas jamais da análise para a intuição. Se admitido como sobrenatural, é possível, com o auxílio da ciência, explicar o significado do fenômeno, apesar da impossibilidade de identificar sua causa. Mas, a partir de uma simples observação, a olho nu, chegar-se a conclusão de que se trata de um fenômeno paranormal ou sobrenatural, é um absurdo!
Armando Avellar
04/04/96
Publicado no Jornal O liberal no dia 11/04/96

* Armando Avellar Pertence ao Departamento de Filosofia da UFPA





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